Estátua do Pensador. O que é filosofia? O que faz um filósofo? Para que estudar filosofia?

O que é filosofia? O que faz um filósofo? Para que estudar filosofia?

Sentir o que é filosofia talvez seja mais fácil do que falar o que é filosofia. De qualquer maneira vamos explanar um pouco este tema.

Poderíamos dizer que filosofia é pensamento; é reflexão; é questionamento. Mas também é produção. Sim é produção a partir do momento que entendamos o que significa produção. Produção é modificar algo em outro algo (ou um ser em outro ser). Por exemplo, quando tomamos alguns insumos como: aço, borracha, plástico e outros derivados e os transformamos em um automóvel, isso é produção. Quando ampliamos um pensamento e transformamos um ser humano em um ser melhor e mais culto, isto é produção.

No entanto quando falo em produção aqui neste contexto refiro-me a produção-modificação que a filosofia “propiciou e propicia” na face do planeta terra. A modificação ocorrida no pensamento do mundo ocidental na Grécia antiga e precisamente a partir do final do século VII e início do VI a.C se deve à filosofia, e teve seu começo em Tales da colônia grega de Mileto por isso chamado Tales de Mileto. Este filósofo e outros tantos deste período da história da filosofia (filósofos da natureza) estavam insatisfeitos com as explicações que eram dadas pelos “deuses gregos” sobre os fatos ocorridos na natureza. Os fenômenos naturais deveriam ser explicados pela própria natureza e não pelos deuses, pensavam eles.

Filosofar é correr riscos, quando queremos produzir pensamentos que sejam manifestados, devemos estar abertos às críticas. Quem não expõe um pensamento, não corre risco, mas continuará dentro da sua casca de ovo (dentro da sua caverna). Não sairá para conhecer o “lado de fora” e nem possibilitará a outros que o façam.

Jean-Toussaint Desanti, prefaciando o livro: Uma história da Razão de François Châtelet escreve falando sobre Châtelet que ele…


Não guardava nada só para si, nem sua força vital, nem seu pensamento, nem seu saber. François era o homem da doação. Por isso, eu o chamo “filósofo”, no sentido primeiro da palavra. De fato, que é a filosofia, a não ser essa obstinação no dispêndio do pensamento, que reúne, exprime e oferece em partilha, dando assim, sempre e sem cessar, “algo para pensar” a quem quiser ouvir?

Jean, continua dizendo:

… a filosofia é no fundo uma atividade corporal e prática. E é preciso que assim seja, pois o filósofo só pode atingir o outro, com sua palavra, expondo-se a si mesmo como sujeito falante, sujeito visível e, em última análise, público.

Assim, ele tem que assumir os riscos dessa posição. Isso significa aceitar expor-se diante das circunstâncias e para o público em plena luz. Nada de retirar-se comodamente para o gozo altivo de um pensamento solitário.(p.7-8)

Muitas vezes é mais cômodo ficarmos dentro de nossa caverna… porém a filosofia desde seus primórdios mostra o contrário, é preciso sair, ir às praças públicas, escrever, publicar, falar… enfim é preciso pensar.

 

Os maiores questionamentos da humanidade são questões filosóficas. Mas há um “problema”, é que o pensamento, a filosofia pode desafiar nossas crenças mais profundas e fundamentais.

Questões como: Deus existe ou não, são crenças filosóficas. Se você acredita ou não é da mesma maneira uma questão de fé, estará fora da razão dizer sim eu creio ou não eu não creio. Outras questões não menos importantes dizem respeito ao cosmos. Como ele surgiu? Por que existimos? Por que morremos? Estas e tantas outras questões foram e são minuciosamente examinadas por filósofos, pensadores.

Nos dias de hoje questões como o aborto, direitos dos animais, direitos humanos, direitos das crianças, questões ambientais, ética nas profissões, guerras, liberdade de expressão, células tronco, etc. são todas questões de importante dimensão filosófica. “Só por isso” já teríamos um bom motivo para estudar filosofia. Pessoas que não reflitam sobre temas de tal magnitude não estão preparadas ou melhor estão em desvantagem para conviver nessa sociedade e confrontar o que é “verdadeiro”.

Os filósofos questionam fundamentos. Aliás as crianças também o fazem, todos nascemos filósofos e com o passar do tempo “esquecemos” de ser filósofos, esquecemos de perguntar, achamos que sabemos tudo, criamos fundamentos, temos crenças que nos foram ensinadas e a tomamos como uma verdade absoluta. Com nossos fundamentalismos achamos que as coisas são óbvias. Paramos de questionar.

Deveríamos nos lembrar de Sócrates quando dizia: só sei que nada sei. E por isso estava aberto ao aprendizado, ao questionamento, ao novo… ao lado de fora da caverna.

Mas o pensamento, o questionamento pode nos dar vertigem intelectual e assim o nosso chão a nossa base pode sair do lugar e com isso podemos sofrer com a perda do nosso apoio. É por isso que muitos preferem não pensar sobre tantas questões filosóficas, preferem ficar onde se sentem seguros.

A pesar de tudo, desse “sofrimento” intelectual é que os “avanços” da humanidade e o “conhecimento” científico ocorrem. E foi e é através da dúvida sobre o que muitos tomam como certo, que outros, com a mente aberta e questionadora estão prontos para a produção. Temos como exemplo Einstein no século XX que revoluciona o conhecimento da Física gravitacional com a teoria da relatividade.

No entanto não ficam só no campo da ciência esses questionamentos, temos questões morais, éticas e tantas outras que podem ser revolucionadas. Se não houvesse pessoas que não considerassem como óbvio e normal a escravidão, ela existiria até os dias de hoje. E os direitos das mulheres? Portanto caro leitor o óbvio, o “dado” pela sociedade hoje pode não ser o óbvio amanhã, pense nisso.

“A vida não examinada não merece ser vivida” (frase atribuída a Sócrates)

Os exames, os questionamentos filosóficos são feitos através da razão, mas é claro que a razão tem seus limites. Costumo questionar: a humanidade tem aproximadamente um milhão de anos e a razão como a concebemos hoje só tem 2500 anos, por que temos que pensar sempre através dessa razão? (mas esse é apenas mais um “pedaço de carvão na fogueira”) Nós podemos questionar o próprio pensamento, ou os ferramentais do pensamento, olha aonde a filosofia chegou…

Então, mesmo que a razão não possa encontrar todas as respostas, pelo menos é um dos caminhos iluminados para esse objetivo. E mesmo quando não encontra as respostas deve continuar questionando, pois pode explanar que o óbvio pode não ser óbvio.

O filme Matrix mostra um dos bons questionamentos filosóficos, para quem não assistiu eu recomendo veementemente que o faça o quanto antes, principalmente o número um da série. Ali se questiona a existência, a realidade, ou na idéia de Descartes (1596-1650), quando estamos dormindo pensamos que o nosso sonho é algo real, alguns suam, choram, gritam e chegam ao êxtase durante o sonho, quando acordam percebem que era ‘apenas’ um sonho. E será que nós não vivemos um sonho dentro de algo maior? Estaríamos dormindo e sonhando?

O Estudo da filosofia, do desenvolvimento das habilidades do pensamento por si só, ainda que não tivessem um propósito definido, já seriam suficientes para o nosso desenvolvimento em todos os campos do saber. Por exemplo: A capacidade de identificar um disparate lógico, evitar palavreado evasivo, ser relevante, expor uma idéia de maneira clara e precisa, etc. São habilidades convenientes seja qual for a sua área de atividade.

Os benefícios do estudo da filosofia têm outros propósitos nobres, ajuda-nos a imunizarmo-nos dos políticos astutos e charlatões de plantão, para fazer um trocadilho, para isso temos Platão (século IV a.C).

Além do mais e para finalizar, há também alguns estudos que demonstram que os alunos que estudam e debatem as questões filosóficas em sala de aula desenvolvem mais sua inteligência intelectual e social.

Outras considerações quanto ao tema deste artigo:

Etimologicamente falando a filosofia vem do grego e é composta por duas palavras, Philo e Sophía (ou Filo e Sofia). Filo quer dizer aquele que tem um sentimento amigável, daí a palavra filantropia. E Sofia quer dizer “sabedoria”. Portanto filosofia quer dizer aquele que tem amizade ou amor ao saber à sabedoria.

Atribui-se a Pitágoras de Samos (século V a.C) a invenção da palavra “filosofia”. Pitágoras dizia que só os deuses têm a sabedoria plena. E aos homens só é possível amar, ter amizade ao saber.

Abraços do Benito Pepe

Leia também:

Do mito, à filosofia o caso da astronomia.

A Filosofia

Referências bibliográficas:

CHÂTELET, François. Uma história da razão: entrevista com Émile Noel. 1.ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1994.

CHAUI, Marilena. Convite à filosofia. 13.ed. São Paulo: Ática, 2005.

STEPHEN, Law, Guia ilustrado Zahar: filosofia. Rio de Janeiro, Jorge Zahar ed. 2008.

 

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shirley
15 anos atrás

O homem q descobre a filosofia se transforma num alquimista…

15 anos atrás

É verdade Shirley, a Filosofia nos transforma e colabora para que transformemos o mundo.
Abraços do Benito Pepe
Obrigado.

Glaucia Carvalho
15 anos atrás

OLá Benito, gostei do seu blog e vou de seguir suas atualizações. Você não tem Twitter não?
Um abraço.

15 anos atrás

Olá Glaucia, você pode seguir (acompanhar) minhas atualizações assinando o boletim, para receber por e-mail, ok?

Obrigado pelo comentário.
Abraços do Benito Pepe

Francisco Castro
15 anos atrás

Olá, a filosofia, em poucas palavras é a arte de descrever a vida, como deve ser vivida. Por meio dos grandes filósofos é que se extraiu os grandes pensamentos sobre a natureza da vida e das pessoas.

Abraços

Francisco Castro

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