Concluindo o texto: Wittgenstein a Linguagem e o Conhecimento…
Nas Investigações filosóficas (1953) para Wittgenstein diferentemente do Tractatus a linguagem não é mais uma representação da realidade. Aliás a linguagem pode até distorcer a realidade. Afinal o que é a Realidade?
O pensamento não é só racional não é só linguagem verbal, você pensa a dor mas não racionalmente, o mesmo ocorre com o êxtase ou com o prazer na intimidade de um casal, você pode pensar o orgasmo mas não racionalmente.
Nas Investigações filosóficas (1953) para Wittgenstein diferentemente do Tractatus a linguagem não é mais uma representação da realidade. Aliás a linguagem pode até distorcer a realidade. Afinal o que é a Realidade?
O pensamento não é só racional não é só linguagem verbal, você pensa a dor mas não racionalmente, o mesmo ocorre com o êxtase ou com o prazer na intimidade de um casal, você pode pensar o orgasmo mas não racionalmente.
Quando um casal apaixonado está namorando ao luar em uma linda praia com um encantador céu estrelado, e um dos dois mostra ao outro aquela maravilhosa imagem, nenhuma palavra é necessária, nem possível para esclarecer algo racionalmente, nenhuma palavra pode relatar a “realidade”, pode-se até querer mencionar o tom de cor que a lua apresenta, mas isto jamais será transmitido por palavras, é de fato necessária aquela inesquecível imagem.
No Tractatus o sentido das preposições era determinado, agora em Investigações o sentido não é mais determinado é indeterminado.
Da mesma maneira que os jogos têm regras, a linguagem que usamos também as têm. O jogo de linguagem é usado com regras. Desta forma criam-se conceitos; “Pensemos, pois, naqueles casos para os quais dizemos que um jogo é jogado segundo uma regra determinada! A regra pode ser um auxílio no ensino do jogo. É comunicada àquele que aprende e sua aplicação é exercida.” Investigações filosóficas (54). Mas os conceitos são abertos não tem um fechamento conclusivo.
No caso da astronomia, já há muito tempo a matemática tem em sua linguagem, em suas regras um valor imprescindível, principalmente depois de Galileu Galilei (2) na modernidade.
Mas Wittgenstein questiona: “em que medida a lógica é algo sublime?” (89)
A descrição de um fato está nas regras de linguagem. No assim chamado 1* Wittgenstein a parte que era levada em consideração eram as descrições de fatos, enquanto que o 2* Wittgenstein vai encarar a descrição como um jogo de linguagem (algo manipulável).
O conceito de realidade é algo metafísico. No Tractatus o conceito de real é metafísico, as proposições demonstram a realidade. Mas nem sempre, se sabe, a verdade é um problema filosófico: a porta está aberta, não é algo questionável; é sim ou não, é verdade ou falso. Da mesma forma no que tange a astronomia, poderíamos encontrar sentenças verdadeiras descritas através da linguagem matemática ou outras, mas também podemos encontrar temas filosóficos que são questionáveis…
Portanto é claro que o sentido da filosofia não é só questionar é também ter algo prático no mundo real, se não, não há sentido. De qualquer maneira, “A filosofia é uma luta contra o enfeitiçamento do nosso entendimento pelos meios da nossa linguagem.” (109). O filósofo é aquele que supera o senso comum.
Quando você fala você tem a “ilusão”, às vezes, que o que você está falando está claro para outrem. Mas isto não ocorre sempre. Não obstante uma mãe sabe melhor o que o seu filho quer do que ele mesmo, por exemplo um neném chorando com fome. Então muitas vezes as palavras são desnecessárias e às vezes, mal colocadas, até atrapalham. Podemos dizer o mesmo das diversas linguagens.
Wittgenstein é um filósofo contemporâneo que “tenta quebrar” o racionalismo moderno, não supervaloriza o filósofo pondo-o em igualdade com outras áreas do saber.
Portanto acreditamos que se há uma “verdade” ela deve ser buscada em conjunto, não podemos menosprezar nenhuma área do saber. Assim a filosofia, as ciências naturais bem como a Astronomia e toda forma de conhecimento devem estar em sinergia. Devemos nos ater ao limite das nossas linguagens e conscientizarmo-nos que estamos “presos,” ainda que não saibamos, dentro de um sistema que pode ser fechado, não há como sabermos que a terra é azul a não ser indo ao espaço ou seja precisamos sair de nossa posição. Da mesma maneira precisamos nos libertar da fixação em nossas linguagens.
Finalizando relembro Kant em a Crítica da razão prática, trecho mencionado por Châtelet (1994):
Duas coisas enchem o coração de admiração e veneração, sempre novas e sempre crescentes, à medida que a reflexão se dirige e se consagra a elas: o céu estrelado acima de mim e a lei moral dentro de mim (…) o primeiro espetáculo, de uma inumerável multidão de mundos, aniquila, por assim dizer a minha importância, por ser eu uma criatura animal que deve voltar à matéria de que é formado o planeta (um simples ponto no Universo) depois de (não se sabe como) ter sido dotada de força vital durante curto espaço de tempo. O segundo espetáculo ao contrário eleva infinitamente o meu valor, como o de uma inteligência por minha personalidade, na qual a lei moral me manifesta uma vida independente da animalidade e até mesmo de todo o mundo sensível. (p.102).
Abraços do Benito Pepe
Abraços do Benito Pepe
Nota:
(2) Galileu Galilei (1564-1642) é conhecido como um dos pais da Física moderna
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS E BIBLIOGRAFIA
APPIAH, Kwame Anthony. Introdução à filosofia contemporânea. 1.ed. Petrópolis: Vozes, 2006.
CHÂTELET, François. Uma história da razão: entrevista com Émile Noel. 1.ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1994.
DELACAMPAGNE, Christian. História da filosofia no século XX; tradução, Lucy Magalhães. 1. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1997.
BLACKBURN, Simon. Dicionário Oxford de filosofia. 1.ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997.
BROCKELMAN, Paul. Cosmologia e criação: a importância espiritual da cosmologia contemporânea. 1.ed. São Paulo: Edições Loyola, 2001.
JAPIASSÚ, Hilton; MARCONDES, Danilo. Dicionário básico de filosofia. 4.ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006.
REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da filosofia, Vl 6: de Nietzsche à escola de Frankfurt; tradução de Ivo Storniolo; 1.ed. São Paulo: Paulus, 2006.
MARCONDES, Danilo. Filosofia analítica. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2004.
__________________. Iniciação à história da filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein. 9.ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005.
MARQUES, Edgar. Wittgenstein & o Tractatus. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2005.
WITTGENSTEIN, Ludwig. Investigações filosóficas. São Paulo, Abril Cultural, 1975 (Col. Os Pensadores)
_____________________. Tractatus logico-philosophicus. São Paulo, EDUSP, 1994.