Continuando o texto: Wittgenstein a Linguagem e o Conhecimento, especialmente na Astronomia.
Wittgenstein, como os neopositivistas, queria compreender o funcionamento da linguagem da ciência, mas não só como estes, Wittgenstein ia além, ele se preocupava muito com aquilo que a ciência não pode dizer; na chamada “parte mística” do Tractatus ele diz “A ciência se cala sobre tudo o que para nós é mais importante: a ética e a religião.” Tractatus logico-philosophicus (1921).
O Tractatus foi um dos livros filosóficos mais influentes do século XX. O Tractatus tinha como um dos objetivos descrever o mundo.
Wittgenstein, como os neopositivistas, queria compreender o funcionamento da linguagem da ciência, mas não só como estes, Wittgenstein ia além, ele se preocupava muito com aquilo que a ciência não pode dizer; na chamada “parte mística” do Tractatus ele diz “A ciência se cala sobre tudo o que para nós é mais importante: a ética e a religião.” Tractatus logico-philosophicus (1921).
O Tractatus foi um dos livros filosóficos mais influentes do século XX. O Tractatus tinha como um dos objetivos descrever o mundo.
“Sentimos que, ainda que todas as possíveis perguntas da ciência recebessem uma resposta, os problemas de nossa vida não seriam sequer tocados” (§ 6. 52) pois o sujeito da ética está fora do mundo. As proposições da ciência são naturais, as proposições da ética são sobrenaturais. Wittgenstein vê o mundo como um milagre em um sentido mais profundo, mas que a linguagem tem um limite que é o que pode ser comunicado, aí está o limite da linguagem.
“O sentido do mundo deve se encontrar fora dele” (§ 6. 41)
Gostaria aqui neste trecho de citar que perdemos o sentido de nossa origem. Conforme comenta Brockelman (2001)
O que perdemos, portanto, foi a habilidade de ver nossa vida como parte de uma ordem e uma realidade mais amplas, para além de nossos transitórios desejos e sonhos diários. Ao ver a natureza e todo o universo como uma “matéria” posta aqui para nossa transformação e uso infinitamente produtivos, reduzimos a realidade a um mero valor extrínseco para nós; ela não é mais vivenciada como intrinsecamente valiosa em si. Por conseqüência, perdemos todo senso de pertencer a um drama e a uma realidade mais vastos e significativos. (p.23).
“Aquilo que a ciência não pode dizer é o que mais importa para nós”
“Aquilo que a ciência não pode dizer é o que mais importa para nós”
A ciência poderia nos levar ao conhecimento total? Ou teríamos limites ao conhecimento seja ele por nossa razão, ou por nossa linguagem ainda embrionária.
“Os limites da minha linguagem significam os limites de meu mundo” (§ 5. 6) isto evidencia como é que nós percebemos o mundo, é claro que não conseguimos pensar sem formularmos frases em nossa mente, e é lógico que de acordo com a nossa linguagem teremos mais ou menos amplitude na visão deste mundo e aqui menciono o universo, o cosmos. Quando se muda a linguagem, muda-se a visão de mundo. Naturalmente muda-se o indivíduo. Entretanto, nesta fase Wittgenstein tenta eliminar o individuo, seria uma filosofia sem sujeito. Diria ele, o sujeito que está no mundo é o sujeito empírico, o sujeito transcendental é como se pensa o mundo, é como você espera que o mundo seja. Nesta época para Wittgenstein a única vontade que existe é a vontade empírica. A vontade transcendental ele tenta eliminar. De qualquer forma ampliando-se a lógica ampliam-se os limites do mundo, diria ele. Lógica vem do grego Logus como um discurso, algo que se possa dizer o mundo. Daí a passagem e a distinção entre mito e Logus. Sucintamente: Mito explicação do mundo pelos deuses; Logus pela razão.
Seria interessante esclarecer que há 3 “Eus” no Tractatus:
1. Eu – modo de ver o mundo
2. Eu – fenomênico que está no mundo, eu da psicologia
3. Eu – das proposições correlacionando o mundo com a linguagem (saber manipular a linguagem).
2. Eu – fenomênico que está no mundo, eu da psicologia
3. Eu – das proposições correlacionando o mundo com a linguagem (saber manipular a linguagem).
A filosofia analítica é um rompimento com a filosofia moderna – abrindo a filosofia contemporânea – não fundamenta o conhecimento na subjetividade diferentemente da filosofia moderna, em Descartes existe a substancia imaterial que está dentro do corpo (dualismo); Nietzsche diz que o “Eu’ é um equivoco gramatical. Onde o “Eu” faz sentido na linguagem tudo bem, ex.: Eu estou aqui! – aí há explicação para a linguagem. Se eu digo: Há um “eu” dentro de mim (alma) não posso explicar pela linguagem.
Para Wittgenstein a filosofia deveria elucidar o uso da linguagem, pois ela não descreve fatos. “A filosofia limita o território disputável da ciência natural. Cumpre-lhe delimitar o pensável e, com isso, o impensável. Cumpre-lhe limitar o impensável de dentro, através do pensável” (§ 4. 113-114) Assim como Kant, Wittgenstein dá limite ao conhecimento sendo agora através da linguagem, não na razão.
Então, dizer seria um campo da ciência e mostrar um campo da filosofia, como dizia Parmênides não podemos dizer o não ser, só o que é, só o ser.
A linguagem nos dá um modelo da realidade não como ela é mas como pode ser representada.
Há também que se lembrar das representações figurativas, que se distinguem das representações ou descrições lingüísticas. Mas sem esquecer que estas também são, muitas vezes, simbólicas e mirabolantes como é o caso das representações de novos planetas descobertos, como menciono neste exemplo:
É impressionante quando assistimos na televisão um noticiário narrando a descoberta de um novo planeta fora do sistema solar e mostrando um esquema hipotético de como seria tal planeta, percebemos que há um claro sensacionalismo ao “mostrar” algo que na realidade é quase que inimaginável, pois não se tem como observar um planeta que está próximo de sua estrela, seu sistema “solar”, a luz não permite a visualização dos corpos próximos, principalmente as novas “descobertas” pois estes planetas estão próximos de Estrelas Gigantescas, mas se “mostra” mesmo assim como se este fosse o aspecto de tal planeta. Tantas e tantas imagens fazem parte da linguagem Astronômica e que precisa da emoção para sobreviver, é o encantamento das pessoas que gera o seu alimento.
Mesmo quando “vemos” algo com o telescópio estamos ainda assim vendo algo que está a milhares ou milhões de anos luz de distância ou seja não está lá agora como o vemos…. mas o maior paradoxo são as tentativas de descrever o cosmos em toda a sua complexidade através de teorias que se apóiam em outras teorias não menos complexas e ainda mesmo não totalmente aceitas pela própria comunidade científica.
O tamanho do mundo é o tamanho de nossa linguagem. Mas podemos “viajar” com nossa linguagem, ainda que sem sair do lugar. Como nos descreve Appiah (2006), através de sons e símbolos gráficos podemos nos conectar com outros lugares e períodos passados por distâncias inimagináveis, viajamos no tempo e no espaço.
Suponhamos que eu pergunte: Há criaturas com consciência do outro lado da galáxia? Com isso, estou em certo sentido conectado, através destas palavras, com um lugar a centenas de anos luz ao qual eu literalmente não poderia chegar mesmo que viajasse durante muitas vidas em uma nave espacial. (p.84)
“Uma vez que se entra na linguagem não se tem como sair dela”. É um total paradoxo, ao mesmo tempo em que a linguagem nos permite desenvolver e transmitir conhecimento ela nos limita dentro dela mesma. Viajamos em nosso conhecimento através de nossas linguagens e aqui devemos lembrar que a matemática é uma dessas linguagens quando ela juntamente com a física muda e ampliam-se da mesma maneira amplia-se o nosso mundo, o nosso universo, o cosmos.
Abraços do Benito Pepe
No próximo tópico: Nas investigações filosóficas
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS E BIBLIOGRAFIA
APPIAH, Kwame Anthony. Introdução à filosofia contemporânea. 1.ed. Petrópolis: Vozes, 2006.
CHÂTELET, François. Uma história da razão: entrevista com Émile Noel. 1.ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1994.
DELACAMPAGNE, Christian. História da filosofia no século XX; tradução, Lucy Magalhães. 1. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1997.
BLACKBURN, Simon. Dicionário Oxford de filosofia. 1.ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997.
BROCKELMAN, Paul. Cosmologia e criação: a importância espiritual da cosmologia contemporânea. 1.ed. São Paulo: Edições Loyola, 2001.
JAPIASSÚ, Hilton; MARCONDES, Danilo. Dicionário básico de filosofia. 4.ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006.
REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da filosofia, Vl 6: de Nietzsche à escola de Frankfurt; tradução de Ivo Storniolo; 1.ed. São Paulo: Paulus, 2006.
MARCONDES, Danilo. Filosofia analítica. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2004.
__________________. Iniciação à história da filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein. 9.ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005.
MARQUES, Edgar. Wittgenstein & o Tractatus. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2005.
WITTGENSTEIN, Ludwig. Investigações filosóficas. São Paulo, Abril Cultural, 1975 (Col. Os Pensadores)
_____________________. Tractatus logico-philosophicus. São Paulo, EDUSP, 1994.
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