Escrevo agora, neste pequeno tópico, às vezes de forma um pouco fragmentada. Isto se dará de propósito, faz parte de um estilo, e retrata um período da história da filosofia da arte, e também representa algumas das minhas anotações.
Para Platão, como nos relembra a Enciclopédia Mirador (1994) o belo era aquilo que imitasse da melhor maneira possível tudo o que estava no “mundo das ideias” assim quando um marceneiro fazia um móvel:
Precisava da ideia desse móvel, modelo invariável verdadeira realidade porque não muda, não perceptível pelos sentidos, mas apreensível pela inteligência. Ora se o móvel é apenas cópia imperfeita do modelo ideal, o quadro que do móvel poderá fazer o pintor não passará de imitação da imitação, cópia da cópia, mais imperfeito ainda, porque reprodução da aparência. (p.4212).
Portanto, para Platão, a arte era apenas uma imitação de uma aparência que produzia somente a ilusão de uma realidade. Pois, para Platão, como podemos ver na alegoria da caverna, nós estamos presos, acorrentados, nesta caverna (o mundo material) e não conseguimos contemplar a luz do dia, a luz do sol, verdadeira realidade que só alcançamos após a morte, no mundo das ideias.
Já com Aristóteles, discípulo de Platão, mas filósofo que após a morte deste, começa a implementar sua própria filosofia, a essência da beleza e da arte está na imitação das coisas reais.
Aristóteles considerava belo tudo que tivesse “certa grandeza e ordem” em suas reflexões sobre a arte era necessário limite, ordem e simetria.
“Em 1753, o teórico Baumgarten introduz o termo estética para designar um ramo da filosofia relacionado à essência e à percepção do belo e do feio. Em 1790, surge a Crítica da faculdade de julgar, de Kant.” (Sinopse das aulas – Rosana Suares – 2006, p.6).
Em Kant, encontramos o desenvolvimento do embrião da estética tal como a entendemos hoje, disciplina filosófica independente. Para ele a satisfação só é estética quando gratuita e desligada de qualquer interesse. Como já mencionamos, o belo para Kant é universal. Distingue o belo do agradável. Para Kant o homem que se pauta na arte é pacífico.
Como dissemos, Kant distingue o belo do agradável. Conforme a Mirador (1994)
Enquanto o juízo referente ao agradável supõe o prazer provocado pelo objeto, o juízo estético, ao contrário, é anterior ao prazer e o determina. O objeto só é agradável porque causa prazer, ao passo que é a beleza do objeto que emociona e provoca o prazer estético. (p.4213).
Utilizarei um pouco, este sentido estético de Kant ao comentar, mais à frente, sobre a questão estética nos produtos de consumo.
Para Hegel o belo artístico não está na natureza, ou na simples imitação dela, mas sim nas obras criadas pelos homens, se o artista “apenas” imitasse a natureza não a ultrapassaria, não lhe seria superior. É portanto essencial que o artista produza com o espírito e assim participe da verdade, pois só o espírito é verdadeiro. Conforme relembrado na Mirador, no verbete correspondente à estética.
Mas de qualquer maneira estaremos limitados pela matéria, por isso a arte é limitada por ela mesma.
Nietzsche procura interpretar o sentido da cultura grega, em relação com os espíritos Apolíneos, representados pela escultura, e o de Dionísio, pela música, pela embriaguez, pela emoção, em detrimento de um pensamento mais racionalista apolíneo. Assim o artista deve ter uma relação consigo mesmo.
Lembramos que a arte no período moderno começa com os repetidores de Aristóteles na poética e depois vai perdendo a força e o receituário vai mudando-se. Até atingir-se a sua nova natureza.
Como vimos. Antes, com Platão, o belo estava no mundo das ideias, em Aristóteles o belo estava no objeto. Em Kant está em uma relação entre o sujeito e o objeto. Depois passamos a uma visão diferenciada em Nietzsche que diz que o belo está em uma relação do artista com ele mesmo.
De qualquer forma há alguns pontos comuns desde Sócrates ou Platão até a atualidade, conforme comentado no verbete da enciclopédia Barsa (1994):
1. Na contemplação desinteressada de um objeto, o homem tem certas percepções sensíveis a que chama de estéticas ou de belas.
2. Toda a experiência estética é valorizada por si mesma e não por alguma verdade filosófica, científica, religiosa ou política que possa conter ou por alguma influência que venha a exercer na conduta humana.
3. A pesar dessa experiência se situar no terreno das emoções, paixões e percepções, como seus elementos constitutivos, é contudo capaz de constituir uma válvula de escape nas suas grandes tensões pela contemplação mental de seus aspectos mais humanos.
4. Não se pode pensar no belo ou no valor estético como uma qualidade ou uma propriedade intrínseca de um objeto físico, mas somente como uma relação do modo de ser ou de uma qualidade do objeto com a sensibilidade.
5. Quando se fala em bom gosto, autênticas experiências estéticas, não se pode deixar adulterar-se por desejos e moda do momento. O mau gosto se revela na incapacidade de experimentar experiências estéticas ou de só experimentá-las deturpadas por interesses pessoais ou por falta de imaginação.
1.4. Do clássico ao moderno e ao contemporâneo da estética
Na antiguidade tínhamos os artesãos que produziam obras poéticas ou líricas, tínhamos as obras sacras consideradas a própria imagem dos deuses gregos… ou melhor… eles estavam vivos nelas.
A arte muda com a tecnologia possível e a cultura de cada época, mas fica sempre uma técnica, uma maneira de se fazer algo. Por exemplo, as milenares pinturas rupestres em cavernas na França e mesmo no Brasil como são mencionadas por Beltrão (2000) podem datar da mesma época, ou seja, cerca de 30.000 anos. E é interessante que, neste caso, tem as mesmas características representando animais pleistocênicos e conhecimentos de astronomia, ainda que estejam tão distantes uma da outra (p.87).
Quanto à “evolução” tecnológica ou a forma de se fazer arte, poderíamos comentar, além das pinturas rupestres tão remotas, as estátuas gregas, as famosas pinturas em paredes e quadros da renascença, o advento da fotografia, que começa no preto e branco. E do cinema que da mesma forma evolui, e, talvez hoje, seja a maneira mais popular, juntamente com a televisão, de se transmitir a “arte”.
Sem dúvida a tecnologia e o avanço científico influi na arte e na maneira de se fazer arte, mas é interessante mencionar que de qualquer jeito, apesar do que nos trouxe toda esta parafernália tecnológica, não se deixou de vivenciar as representações mais antigas da bela arte. Por exemplo, ainda hoje podemos apreciar belas estátuas – ainda que com outros olhos – belos quadros também podem ser vistos, apesar de termos a fotografia, aliás podemos apreciar fotos preto e branco como verdadeiras obras de arte, apesar de termos fotos coloridas; contudo continuamos a apreciar as fotografias apesar de facilmente podermos filmar tudo. pretendemos dizer que a arte também é, de certa maneira, e apesar de tudo o que esteja à sua volta, algo transcendental, algo emocional, subjetivo e algo eterno e independente da própria tecnologia.
Mas, da mesma maneira, a estética modifica-se com a tecnologia, contudo mantém algo do “passado” em suas raízes. Como dissemos o principal objetivo da estética em produtos de consumo é emocionar o comprador, é fazer com que ele possa se encantar, encontrar mais do que procura no produto, e desta forma ele passe a ser o maior divulgador desta “obra de arte”, como dissemos, nós sentimos a “necessidade” de compartilhar nossos sentimentos sobre o belo ou o que achamos belo, estético. Veremos mais à frente a influência deste “boca a boca”, da mídia e de outras formas de marketing na arte mercantilizada de nossos dias.
É preciso também entender a arte de outra maneira, referir-me-ei aos produtos de uma indústria cultural, aí temos produtos em série e de consumo rápido no mercado da moda e nos meios de comunicação de massa por exemplo, tanto quanto uma diversidade de outros produtos que pautam a estética como um ferramental a mais para a venda.
BELTRÃO, Maria da Conceição de Moraes Coutinho. Ensaio de arqueologia: uma abordagem transdisciplinar. 1.ed. Rio de Janeiro: ZIT Gráfica e editora, 2000, 184p.
BLACKBURN, Simon. Dicionário Oxford de filosofia. 1.ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997, 437p.
CHAUI, Marilena. Convite à filosofia. 13.ed. São Paulo: Ática, 2005, 424p.
__________. Introdução à história da filosofia: dos pré-socráticos a Aristóteles, volume 1. 2.ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2002, 539p.
ENCICLOPÉDIA, Barsa. Rio de Janeiro – São Paulo: Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações, 1994. V. 7, p.184-186.
______________, Mirador Internacional. Rio de Janeiro – São Paulo: Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações, 1994. V. 8, p.4212-4218.
JAPIASSÚ, Hilton; MARCONDES, Danilo. Dicionário básico de filosofia. 4.ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006, 309p.
MARCONDES, Danilo. Iniciação à história da filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein. 9.ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005, 298p.
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