Continuamos agora falando da Modernidade e da chamada Crise da Modernidade ou Pós-modernidade e mesmo Hiper-modernidade como preferem alguns.
1.4. A modernidade
A modernidade, o mundo moderno, teve como fatores determinantes o renascimento (origem – Florença – Itália), a reforma protestante (Alemanha – Lutero), e a revolução industrial (na Ilha – Inglaterra), mas começa mesmo, na área da revolução científica, com pensadores, cientistas e filósofos como poderíamos chamá-los na época; Tais como: Copérnico, Galileu Galilei, Descartes, Isaac Newton, entre outros tantos. A partir de então tivemos uma verdadeira revolução na ciência, e como conseqüência, o reposicionamento do homem em sua cultura, visão do mundo, do universo, e de si mesmo. Tratou-se da relação Sujeito – Objeto. Mas o que foi valorizado o Sujeito ou o Objeto?
É a ciência moderna: a astronomia e a física, para citar alguns exemplos, que renascem. Mas agora baseadas e concebidas em uma relação matemática de regularidade austera. Daí, mais tarde, vir a brotar diversas invenções, que verdadeiramente revolucionaram a face do planeta terra. Acreditamos que da mesma maneira que benefícios vieram com todo esse germinar de “progresso”, desabrocharam-se desilusões e desencantos que mais posteriormente seriam sentidos, conforme comentaremos mais à frente.
Como nos relembra Michel Foucault, em Arqueologia das Ciências e História dos Sistemas de Pensamento (2000) :
Freud fala, em algum lugar, que há três grandes feridas narcísicas na cultura ocidental: a ferida imposta por Copérnico; aquela feita por Darwin, quando ele descobriu que o homem descendia do macaco; e a ferida feita por Freud, já que ele próprio, por sua vez, descobriu que a consciência repousava na inconsciência. (p.43).
Aproveito este segmento do texto, para mencionar aqui que essa tripla humilhação ajudou, de certa forma, com que os homens saíssem um pouco mais do seu pedestal supremo e de uma superioridade incondicionada, que se fortalecera com o iluminismo, e que se reposicionassem no planeta em que vivem, dentro de sua realidade e não tanto mais como aqueles que se achavam os seres supremos por excelência, os esclarecidos através da razão.
Kant dá limite à razão e estabelece critérios para um conhecimento legítimo. No prefácio à segunda edição da Crítica da razão pura (1787) Kant formula a metáfora da revolução copernicana através da qual passamos a saber que não é a terra o centro do sistema solar, o sol não gira entorno da terra e sim a terra é quem gira entorno do sol, como também o fazem todos os demais planetas de nosso sistema solar. Com esta metáfora, Kant diz, da mesma forma, que não é o sujeito que se orienta pelo objeto, mas é o objeto que é determinado pelo sujeito. “Sujeito” e “Objeto” para Kant passam a ser termos relacionais.
Kant também seria de alguma forma o iniciador desse questionamento científico e muitos de seus pensamentos éticos pautariam a contemporaneidade.
1.5. A crise da modernidade
Começamos aqui a crítica a todo este racionalismo científico desmedido. Filósofos como, Kant e Hegel foram talvez os bebês, (simpática esta analogia que faço, pois Kant é chamado de o velho Kant) depois alguns meninos como Schopenhauer, e mais tarde alguns jovens como Nietzsche que pode ser considerado “o pensador cuja crítica à tradição filosófica clássica e moderna foi mais marcante”, como diz Marcondes (2005, p.243).
Este jovem que agora já pode gerar filhos, os faz. Deixa alguns herdeiros com consciência e também inconscientemente. Nietzsche grande estudioso que foi, e como filólogo estudou toda a tradição filosófica. Analisa a passagem do pensamento mítico para o lógico-científico e diz que ali se perderam a proximidade com a natureza, e poderíamos dizer: as emoções trazidas pelo deus Dionísio e toda a embriaguez, dança, música. Este era o deus da natureza… em contra partida passa-se a valorizar o deus Apolo. O deus da racionalidade. Antes desta passagem estes “espíritos” se contrabalançavam, mas depois com a emergência da razão, Apolo prevalece em detrimento de Dionísio, que pouco a pouco é reprimido com tudo o que ele representa, o desejo, as emoções, os sentimentos, e tudo o mais.
Nietzsche critica quase todos os seus antecedentes filósofos, “zomba do racionalismo crítico moderno, de sua pretensão de fundamentar nosso conhecimento e nossas práticas. Um de seus alvos prediletos é Kant” como diz Marcondes (2005, p.244).
Portanto vários dos princípios da modernidade começam a ser questionados, não só por Nietzsche, mas também por Heidegger, entre outros, que de certa maneira procuram retomar o ser. Retomar a ontologia lá dos pré-socráticos.
Especialmente Heráclito e Parmênides. Criticam a tradição filosófica e a modernidade onde o homem estava preocupado predominantemente com a ciência e o conhecimento. E agora estaríamos re-apontando uma renovada busca pela verdade, a busca originária do conceito grego de verdade (alétheia) no sentido de desvelamento do ser – descobrimento – “retirada do véu”.
Heidegger critica a sociedade industrial (uma das causadoras da modernidade) onde se predomina a ciência. E questiona estes valores e princípios modernos.
Como transcreve Marcondes (2005):
“A ciência não pensa.” A ciência e sua aplicação técnica seriam incapazes de pensar o ser, de pensá-lo fora da problemática do conhecimento e da consideração instrumental e operacional da realidade típicos do mundo técnico. Na verdade, o desenvolvimento de nosso modelo técnico e industrial é conseqüência precisamente do “esquecimento do ser” na trajetória da cultura ocidental. (p.267).
Precisamos nos lembrar que nós somos seres que nunca estamos prontos, somos diferentes de objetos como uma caneta, por exemplo. Ela está pronta. Tem seu objetivo, seu propósito, que é ser usada para escrever, está ali à nossa disposição e está acabada, está constituída. Michael Foucault é um dos filósofos que estuda como se forma a nossa subjetividade, o ente do presente. E questiona: Como somos formados? As instituições vão dizer como o sujeito é. As ciências humanas, por exemplo: médicos e psicanalistas começam a dizer o que é o homem. E assim nós vamos nos tornando o que pensamos ser, através da maneira que nos dizem que somos. É a relação Saber – Produção – o saber produzindo a “verdade”. Foucault vem questionar isto e diz: o que poderíamos ser? E não mais o que somos ou pensamos ser. Precisamos então lutar contra este saber científico?
Será que a ciência pode delimitar o que é, e o que não é conhecimento? O que é, e o que não é bom para o ente? Todo o conhecimento se dá pela razão? Pelo racionalismo?
Existem diversas áreas do saber na humanidade. Os conhecimentos poderiam ser considerados genericamente em quatro categorias: o conhecimento vulgar ou popular (como o nome diz, vem do povo, não tem base científica) o conhecimento filosófico (no dizer de Kant é o conhecimento racional a partir de conceitos), o conhecimento religioso (está no magistério da fé) e o mencionado conhecimento científico (racionalista empirista da modernidade – em pauta). Mas, acredito que, nenhum deles poder-se-ia intitular o dono da verdade! A verdade não estaria assim, em nenhuma dessas categorias isoladamente, mas em uma confluência entre elas ou entre algumas delas).
Freud veio com o inconsciente que quebra um pouco a racionalidade, diz que agimos muitas vezes com instrumentos que não são conscientes e portanto poderíamos chamá-los de intuitivos ou instintivos ou seja lá o nome que quisermos dar. O importante é que não poderíamos valorar, uma ou outra maneira de pensar e agir em detrimento desta ou daquela. Gostaria de me permitir colocar aqui uma expressão: porque devemos pensar sempre com a razão ou o racionalismo? A razão humana só tem uns 2500 anos, enquanto que a origem da humanidade, algo em torno de 2 milhões de anos…
Talvez precisássemos retomar um pouco Kant, criticar a nós mesmos, não como doutrina, mas como ethos, no sentido de uma atitude crítica da razão humana, com nossos limites, e dizer da impossibilidade de se ultrapassar este limite.
Retomamos a chamada crise da modernidade que se implanta algum tempo depois, isto ocorre principalmente após as duas grandes guerras mundiais, mais ainda, depois da segunda guerra, lá pelos anos 50, 60 e 70 com o desencanto destas tecnologias utilizadas nessas guerras, como: uso da bomba atômica e o próprio avião que tanto frustrou nosso querido brasileiro Santos Dumont e que vieram a dar o que deu com o seu mau uso ou uso para o mal, e em conseqüência disto surgem os movimentos anticultura.
Há também formas de se repensar a racionalidade, formas de se pensar a razão. A maneira como se pensa a razão muda historicamente. Por exemplo quando Descartes retoma o racionalismo – quando ele retoma Platão e Aristóteles – o faz de forma diferenciada, embora que ainda seja uma retomada do racionalismo. Isto se pode observar na relação sujeito – objeto que passa a ser considerada. Será que o que está ocorrendo hoje, também não seria uma retomada deste pensamento, de uma forma diferente novamente?
A “crise” seria portanto, um momento, uma fase da modernidade? Há vários autores, filósofos e sociólogos que se contrapõem nesta questão, mas pelo que parece uma das maiores questões em pauta é na verdade a retomada do sujeito em detrimento aos valores que foram levantados na modernidade, tais como: a ênfase na ciência e a questão do conhecimento, entre outros, e que agora, ao contrário, se passaria a valorizar a criatividade, a inspiração e o sentimento. Os valores estéticos passam portanto a tomar o lugar do científico, como observa Marcondes (2005, p.274).
Lyotard com sua obra A condição pós-moderna (1979) introduz o termo pós-modernidade e vem questionar: será que nós podemos pensar da mesma maneira que os modernos pensavam? Habermas por outro lado afirma: precisamos aprender com os desacertos do modernismo.
Conforme menciona Marcondes (2005):
Habermas polemizou com Lyotard, em um texto intitulado “A modernidade: um projeto inacabado” (1980), ao defender a validade das idéias do racionalismo e do Iluminismo, considerando-os de importância fundamental, sobretudo a teoria crítica em um sentido político e ético, para nosso contexto social. Trata-se de uma questão em aberto, ambas as posições encontrando adeptos e defensores; na realidade, refletindo a importância, neste final de século, de se pensar o papel da filosofia em relação ao projeto de sociedade que se construirá no futuro. (p.274).
Hoje poderíamos dizer que se re-modificou, mais uma vez, a forma, a maneira da racionalidade. Há várias pessoas pensando, visando um consenso. Esta seria uma virada da racionalidade? Como devemos entender esta crise da modernidade, seria “a modernidade em um analista fazendo análise”?
Abraços do Benito Pepe
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Oi Benito!
Voltei pra pedir ajuda novamente…rsrsrs
Meu trabalho desta semana está relacionado com Lyotard e a ” condição pós-moderna” ou seja, na perspectiva de Lyotard, e qual o papel do ensino neste novo estado cultural.
Será que vc pode me ajudar?
Grande abraço, aguardo sua resposta.
Regina.
Olá Benedito. Eu tb gostaria de ajuda para fazer este trabalho,o assunto é o mesmo da Regina.
abraço Ines
Olá Regina, neste caso de Lyotard sinto não poder colaborar, este não é um dos temas de meus estudos…
De qualquer maneira posso “pincelar” dizendo que na pós-modernidade surge a chamada “crise da modernidade”, ou seja, é um momento de reflexão quanto a tudo o que ocorreu na modernidade, por exemplo, este homem que foi capaz de “separar” átomos e partículas subatômicas e também foi capaz de voar com o avião, mas com este avião joga bombas atômicas contra os japoneses… A pós-modernidade é um momento de reflexão: até que ponto vale todo este “CONHECIMENTO DO HOMEM”? Como devemos usar o conhecimento?
Abraços, Benito Pepe
Olá Inês, vide resposta acima dada para a Regina.
Abraços, Benito Pepe