Vamos então às Considerações Finais do texto: Hegel os Gregos e os Modernos.
Concluindo o Texto: Hegel os Gregos e os “Modernos”: uma fissura para a contemporaneidade
Por fim não podemos deixar de evidenciar que a filosofia de Hegel lançou as bases para a maior parte das tendências filosóficas e ideológicas que vieram depois, tais como o marxismo, o existencialismo e a fenomenologia. Por exemplo, o desenvolvimento da dialética mediante a substituição da ideia pela matéria foi uma tese central no pensamento de Karl Marx. Não é exagero afirmar, portanto, que a obra de Hegel implantou um quadro de referências indispensáveis para a compreensão das abordagens filosóficas posteriores.
Vejamos um exemplo muito célebre da dialética hegeliana que será um dos pontos de partida da reflexão de Karl Marx. Trata-se de um episódio dialético tirado da Fenomenologia do Espírito, o do senhor e o escravo. Dois homens lutam entre si. Um deles é pleno de coragem. Aceita arriscar sua vida no combate, mostrando assim que é um homem livre, superior à sua vida. O outro, que não ousa arriscar a vida, é vencido. O vencedor não mata o prisioneiro, ao contrário, conserva-o cuidadosamente como testemunha e espelho de sua vitória. Tal é o escravo, o “servus”, aquele que, ao pé da letra, foi conservado.
a) O senhor obriga o escravo, ao passo que ele próprio goza os prazeres da vida. O senhor não cultiva seu jardim, não faz cozer seus alimentos, não acende seu fogo: ele tem o escravo para isso. O senhor não conhece mais os rigores do mundo material, uma vez que interpôs um escravo entre ele e o mundo. O senhor, porque lê o reconhecimento de sua superioridade no olhar submisso de seu escravo, é livre, ao passo que este último se vê despojado dos frutos de seu trabalho, numa situação de submissão absoluta.
b) Entretanto, essa situação vai se transformar dialeticamente porque a posição do senhor abriga uma contradição interna: o senhor só o é em função da existência do escravo, que condiciona a sua. O senhor só o é porque é reconhecido como tal pela consciência do escravo e também porque vive do trabalho desse escravo. Nesse sentido, ele é uma espécie de escravo de seu escravo.
c) De fato, o escravo, que era mais ainda o escravo da vida do que o escravo de seu senhor (foi por medo de morrer que se submeteu), vai encontrar uma nova forma de liberdade. Colocado numa situação infeliz em que só conhece provações, aprende a se afastar de todos os eventos exteriores, a libertar-se de tudo o que o oprime, desenvolvendo uma consciência pessoal. Mas, sobretudo, o escravo incessantemente ocupado com o trabalho, aprende a vencer a natureza ao utilizar as leis da matéria e recupera uma certa forma de liberdade (o domínio da natureza) por intermédio de seu trabalho. Por uma conversão dialética exemplar, o trabalho servil devolve-lhe a liberdade. Desse modo, o escravo, transformado pelas provações e pelo próprio trabalho, ensina a seu senhor a verdadeira liberdade que é o domínio de si mesmo. Assim, a liberdade estoica se apresenta a Hegel como a reconciliação entre o domínio e a servidão.
Por fim a propósito de se declarar que a volta, a retomada, da filosofia da natureza na modernidade, ainda que não propositalmente, colabora com o capitalismo. Podemos pegar este gancho e distinguir a natureza em si, de uma natureza do homem que obviamente são coisas diferentes. A natureza no homem seria uma segunda natureza, onde incluímos a cultura, valores, condições políticas, sócio econômicas entre outros fatores que são formadores dessa natureza humana.
Esse homem é um processo da história, é moldado, é parte de uma estrutura que o faz, o determina, o cria. Enfim o homem é uma “natureza” feita pela “natureza”. O homem é o que é, não porque quer ser o que é, mas porque a história o faz assim…
Abraços do Benito Pepe
Bibliografia e Referências bibliográficas
KOYRÉ, Alexandre. Estudos de história do pensamento filosófico, Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1991.
REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da filosofia: do romantismo ao empiriocriticismo, v.5.; tradução de Ivo Storniolo; 1.ed. São Paulo: Paulus, 2005.
ROVIGHI, Sofia Vanni. História da filosofia moderna: da revolução científica a Hegel. São Paulo: Edições Loyola, 1999.
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