Tivemos no que tange a Astronomia um grande passo para o que viria a ser a Cosmologia – diferentemente da cosmogonia – que não é uma ciência; aquela já é uma ciência, pois a estudamos com teorias e observações, estamos procurando causalidades lógicas, ordem e organização, pautamo-nos na matemática. Estamos abertos às críticas, justificadas.
Conforme mencionamos, entre as características do pensamento filosófico-científico, estão a Physis, a causalidade, a arqué (elemento primordial), o cosmo, o logos e o caráter crítico. Agora gostaria de citar o que Marcondes lembra sobre o uso deste racionalismo em conexão com este real que é o cosmos:
É a racionalidade deste mundo que o torna compreensível, por sua vez, ao entendimento humano. É porque há na concepção grega o pressuposto de uma correspondência entre a razão humana e a racionalidade do real – o cosmo – que este real pode ser compreendido, pode-se fazer ciência, isto é, pode-se tentar explicá-lo teoricamente. Daí se origina o termo “cosmologia”, como explicação dos processos e fenômenos naturais e como teoria geral sobre a natureza e o funcionamento do universo. (2005, p.26).
Eudoxo, século IV a.C, deixa um legado que será relembrado nos textos de Aristóteles (c. 350 a.C) e Simplício (c. 500 d.C). Ele se preocupava com a Cosmologia do presente, queria explicar o movimento planetário. Para isso criou esferas dentro de esferas que giravam em relação umas às outras, preconizando o que seriam os epiciclos pré-copernicanos. Aristóteles vem e coloca a terra no centro deste sistema – é o geocentrismo – que seria desqualificado bem mais tarde, cerca de vinte séculos depois por Copérnico (1473-1543), com a teoria do heliocentrismo (o sol no centro do universo). Embora não tenha sido uma ideia totalmente original de Copérnico que a busca lá nas múltiplas hipóteses cosmológicas que se fizeram até então, foi na hipótese de Aristarco de Samos que Copérnico se baseia. Copérnico parte dessa hipótese, e isso dará um grande ponto de partida para a astronomia moderna, como veremos no capítulo quatro.
Aristarco (c.310-230 a.C), astrônomo grego, se assim podemos chamá-lo, formula a hipótese de que o sol se encontrava no centro do nosso universo. Ele era uma exceção ao pensamento geocêntrico de então. Mas como explicar que a terra estando em movimento, ainda assim as estrelas pareciam fixas no céu quando as observávamos aqui desta Terra móvel? Aristarco postula que a distância entre a terra e as estrelas era muito maior que a distância da terra ao sol, assim o raio da órbita da Terra poderia ser considerado nulo em comparação à enorme distância que nos separa das estrelas. Aristarco fez também boas estimativas das distâncias entre a Terra e o Sol e entre a Terra e a Lua. Conforme comenta Cherman (2004, p.25).
No entanto antes destes astrônomos já tínhamos outros grandes pensadores, alguns deles já comentamos: Tales, Anaximandro, Anaxímenes e Pitágoras. Queremos destacar agora Pitágoras que afirmava, conforme lembra Cherman (2000, p.23), que: “a criação do Universo se dava através dos números, esboçando a importância que a Matemática viria a ter nas modernas teorias cosmológicas.”
Certamente Pitágoras não poderia imaginar o quão longe a astronomia poderia chegar através da utilização da matemática como ferramental. Pitágoras nos deixou heranças não só pela própria matemática, mas também, como menciona Marcondes (2005, p.33) pela “doutrina segundo a qual o número é o elemento básico explicativo da realidade, podendo-se constatar uma proporção em todo o cosmo, o que explicaria a harmonia do real garantindo o seu equilíbrio”.
Pitágoras mencionava também a harmonia da música, com relação ao cosmos e uma proporção ideal em todo o universo. Foi daí que Johannes Kepler, na idade moderna busca uma harmonia do mundo, como relembra Gleiser (2006) no seu romance de mesmo nome. Kepler(4) suspeitou que os planetas apresentavam órbitas elípticas (e não circulares, como acreditava Copérnico). E para confirmar isso se utilizou da matemática e das observações e anotações das posições planetárias feitas por Tycho Brahe. Vemos assim que a cosmologia, agora de forma observacional, empírica e matemática distancia-se totalmente da antiga cosmogonia, mas é bom lembrar que ainda na idade moderna a astrologia era confundida com a astronomia.
Também podemos elucidar, como relembra Chaui, que foi “graças aos primeiros filósofos gregos e à ideia que a natureza é uma ordem que segue leis universais e necessárias que”:
No início do século XVII, Galileu Galilei deu novo impulso à física ao estudar o movimento dos graves ou “pesados” (ou a estabelecer as leis da queda dos corpos) e, para isso, a demonstrar as leis naturais do movimento uniforme e do movimento uniformemente variado. … Isaac Newton, no final daquele mesmo século, a estabelecer as leis matemáticas da física, a demonstrar as três leis do movimento e a chamada “lei da gravitação universal”, que, como o nome indica, é válida para todos os corpos naturais. … E, no século XX, levou Albert Einstein a estabelecer uma lei válida para toda a matéria e energia do universo, lei que se exprime na fórmula E=mc2. (2005, p.20).
Estes são exemplos de alguns legados deixados pelo pensamento grego-filosófico-científico-astronômico, e que sem dúvida vieram a revolucionar o pensamento moderno e contemporâneo.
Considerações deste capítulo (vide publicações anteriores)
Como vimos os pré-socráticos foram de vital importância para a cosmologia e a astronomia. Mas não só para estas – como também para o pensamento filosófico em geral – tanto que estão sendo retomados por alguns autores contemporâneos e portanto não nos deixam dúvidas da “autoridade” que eles tiveram e da relevância na passagem do mito à filosofia.
A filosofia não está ligada à “emoção” ou ao “irracional”, mas à Razão. Porém essa razão na filosofia vem com o tempo, no seu início ela não estava pautada na razão, a filosofia não era nem racional nem irracional, era a philosophia. Os pré-socráticos mantinham “mito” e “razão”, e desenvolveram um pensamento ou “imaginação” que deve ser analisado atenciosamente. Na sua origem a filosofia era uma soma de pathos (emoção) + ratio (razão).
A apropriação que se passa a ter do pensamento e do Ser é diferente do mútuo pertencer na origem do pensamento. A busca do ser se findou com o querer ser, e o pior é que muitas vezes se deixa de ser.
Quem sabe os pré-socráticos não seriam um bom exemplo de qualificação e bom senso entre a super valorização da ciência moderna racionalista e uma adequação ao mito ou uma coerência entre Dioniso e Apolo (?). Como nos diz Nietzsche, relembrado por Chaui (2002, p.27): “A filosofia, para Nietzsche, começa e termina com os filósofos pré-socráticos, isto é, com todos os filósofos que fizeram da dualidade entre o dionisíaco e o apolíneo o núcleo da própria natureza e da realidade.” E ele conclui dizendo que depois de Sócrates acaba a filosofia e entra o racionalismo.
Notamos hoje uma super valorização da razão e do racionalismo, que muitas vezes e de forma exagerada, é representado por Apolo, e colocado em detrimento da emoção, da embriaguez e de tudo o mais que representaria o deus Dioniso. Mas parece que isto já está, de alguma forma, se revertendo.
Outro fato que não poderíamos deixar de destacar é que o mito outrora afastado das “entranhas” da população, de uma forma ou de outra, coexiste até hoje consciente ou inconscientemente neste mesmo povo, e não queremos aqui julgá-lo, mas podemos afirmar, por acreditarmos, que se para uns o mito é uma forma de “escape”, para outros ele é, e vive uma outra verdade. Portanto, imaginemos a vida de bilhões de pessoas neste pequeno planeta tão irrisório deste sistema estelar, entre tantas e tantas outras bilhões de estrelas desta nossa galáxia chamada Via Láctea, entre tantas outras bilhões de Galáxias inimagináveis deste universo… Se este povo se afastasse totalmente de qualquer “mito”, na verdade acredito que seria paradoxal. Quem somos nós para julgarmo-nos “sabedores” de todos os conhecimentos ou pior ainda da verdade?
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(4) Johannes Kepler (1571-1630) Astrônomo que, usando dados coletados por Tycho Brahe (as oposições de Marte entre 1580 e 1600), mostrou que os planetas não se moviam em órbitas circulares, mas sim elípticas. Esse pequeno detalhe, difícil de ser observado a partir da Terra, deu a Newton uma pista para formular a teoria da gravitação universal 50 anos mais tarde. Newton viria a declarar: “se enxerguei longe, foi porque me apoiei nos ombros de gigantes”. Não declara exatamente quem seriam esses gigantes, mas Kepler certamente era um deles.
No Próximo tópico: A Física e a Astronomia de Aristóteles
Abraços, Benito Pepe
[…] A Cosmologia e a Astronomia […]
Olá meu camarada, em primeiro lugar, quero deixar postado neste comentário, principalmente para pessoas que procuram algo neste Site, e dizem que nada encontraram de interessante em determinados TEXTOS. Senhores anônimos, gostaria de informar a vocês, se é que não sabem! Que muitos dos assuntos, são compilados e o Site não nega isto, ao contrario, indica com todas as letras, suas fontes e autores das ilustrações descritas, por personagens inquestionáveis da historia da humanidade. Bom meu amigo, deixa isto pra lá, o que eu quero dizer, é que: Aprendi ao comentar nossos SÁBIOS TEXTOS, e principalmente, com suas respostas aos meus comentários, que cabe à cada leitor, a reflexão filosófica de cada assunto. “Cosmologia e Astronomia “ . Viajar neste mundo fascinante deste tema, me obriga usar o “mítico” ( imaginação), pois o “logos” não me é permitido o direito, pelo fato de não poder realizar viagens interplanetárias. No universo “Supralunar”. Imagino um mundo fascinante de deslumbramento sem par, o espetáculo multicolorido de bilhões de astros cintilando uns para os outros como se estivessem comunicando-se através de uma sinfonia perfeitamente harmônica, quem colocou estes magníficos seres estelares em seus devidos lugares? Como este infinito de coisas foram colocar-se estrategicamente, na mais perfeita ordem de funcionamento? E nós meu camarada? Infinitamente pequeninos fragmentos criados pelas forças poderosas deste “Cosmos”; quem somos? De onde viemos? Para onde vamos? O que fazemos aqui neste Astro chamado Terra? Será que estamos sozinhos neste infinito de coisas perfeitas? Já o mundo “sublunar” meu caro, caracteriza-se pela imperfeição, o que equivale a dizer que as coisas que o compõem estão sujeitas à geração e corrupção, isto é, ao nascimento, à degenerescência e à morte. A imperfeição também significa violência: o nascimento de uma coisa implica a morte de outra. É meu camarada não vou buscar fatos, nomes e datas, pois aprendi, que o importante é a reflexão filosófica de cada um. Agora se u sujeito não tem reflexão certa ou errada, paciência. Aquele abraço do amigo J.M.Dias .
Olá JM Dias, não precisa se preocupar em comprar brigas dos Anônimos, eu já disse que deixo todos os comentários publicados, desde que não tenham palavrões. Acho que assim deve agir uma pessoa que publique seus textos na Internet ou em outro veículo, ou seja, deve ouvir elogios, críticas e se arriscar aos besteiróis também não é?
Quanto ao teu comentário ele está simplesmente MARAVILHOSO, muito bem meu amigo! é isso aí! uma viagem filosófica astronômica. Valeu!
Abraços, Benito Pepe